windsong

Tomada pela confusão, seus pensamentos escorriam por seus olhos. Pensamentos estes, banhados em tristeza. Como pequenas pedrinhas, eram responsáveis pelo gosto salgado que retornava de onde viera, através de seus lábios, penetrando o grito silencioso que por eles escapava. Não mexia as cordas vocais; mas o coração. Não passava pela garganta; mas pela dor. Não chegava os ouvidos; mas ao nada.
Enganava-se; fingia abraçar-se, mas a machucava. A mão que o ombro afaga agora tenta escoriar. Está sedenta. Ela quer dor. Dê-la a dor, estúpida!...
"Não. Deixa estar. Deixa estar..."
Mal consegue respirar. Há de fungar e fungar, mas nunca se vai. O que obstrui não se pode tirar. É o desespero. É a descrença. É a dúvida. É a incerteza. É a desorientação. É o sentimento. Sobrecarregando-a, é a dor apropriando-se de seu corpo, querendo-o para si. "Encorpore-me", ela diz. A resistência não mais é suficiente; "Seu desejo é uma ordem."
Apertava o corpo, tentava segurar dentro de si. Não conseguia; escorria, escapava. Então apertava de novo. Forçava-se, queria voltar. "Só um pouco. O suficiente." Não sabia direito, talvez não soubesse de nada. Sempre pensou que não sabia porque não queria. E se quisesse? Já não adiantava. Não lhe restava mais nada. A começar pelo seu corpo, sua mente também fora tomada. Seus pensamentos já haviam lhe escapado, dando lugar ao obscuro. Tudo lhe fora tomado. Já não era mais ela. Era agora um corpo, transbordando dor.

Olhou. Imaginava que seus olhos escarrariam dor. Talvez o tenham feito; o fato é que estava aparente.
O calor veio, e logo derreteu-a. Conseguia respirar.

Would?