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E se...

Cruzando a mesma ponte construída sobre a pequena porção do gigante oceano Atlântico, eles trocaram olhares.

Ela, de altura mediana, um pouco abaixo do peso ideal, aparentava quase como uma boneca, esbanjando delicadeza nos movimentos que seu sobretudo vermelho deixava insinuar. As pernas, cobertas por uma aparente meia cinco oitavos preta, pareciam apenas tocar suavemente o chão, como se não houvesse peso a ser suportado. Os cabelos castanhos e lisos voavam sobre os ombros com a brisa, disputando seu espaço com o cachecol escuro. No rosto, lábios dos quais o frio arrancava aos poucos a cor constrastavam com a coloração vibrante dos olhos cor de mel.

Ele, com seus olhos ora esverdeados, ora azulados, era de altura avantajada. Coberto por um longo casaco marrom, não sentia o frio penetrar-lhe o corpo, embora seu rosto lhe desse a sensação de congelar. Seus braços eram firmes, e carregavam clássicos da literatura realista russa, um dos maiores alvos de seu interesse. Seu andar era rápido e intimidante, característica reforçada pela barba por fazer e pelo cabelo desarrumado. Não obstante, não era esta a impressão que as pessoas costumavam ter de sua pessoa.

Eles não sabiam, mas, se houvessem conhecido-se, apaixonariam-se. Ele apreciaria características dela como a timidez em público, que a fazia juntar as mãos e direcionar a ponta dos pés para dentro, enquanto abaixava a cabeça e respondia, envergonhada; a inocência dela ao descobrir algum dos podres deste mundo e a incredulidade dela para com os mesmos; a ingenuidade dela, que a fazia acreditar quase que como uma criança em suas palavras; o jeito como costumava mexer no cabelo perto dele, como se quisesse fazer-se mais bonita; a mania de brincar com seus dedos, comparando-os em tamanho e formando figuras das mais diversas; a voz que fazia quando ficava brava, e como ao tentar bater nele pareciam apenas cócegas; o sorriso dela quando ele simplesmente a olhava.

Ela sempre gostaria da intensa inclinação pela arte que ele tinha, e sempre admiraria isso; como ele era muito mais bobo do que ela, fazendo-a rir com várias de suas bobagens e como ele a olhava ansioso por sua reação, deixando-a tímida; quando ele preparava algo para ela, ou mesmo a mimava buscando doces; a vontade de protegê-la de qualquer coisa, e a vontade de exclusividade para com ela; os gostos que ele compartilhava com ela, e só com ela; quando a olhava com desejo e ternura; a mania que tinha de dizer como ela era bonitinha tão involuntariamente, que mesmo dormindo chegava a fazê-lo; o sorriso dele quando ela sorria pra ele.

Eles também não sabiam que se houvessem apaixonado-se, não terminariam juntos.

Ele sempre sonhou com uma garota como ela. Mas ela não era uma garota "como ela". Ela era o que havia de ser; o que suas experiências e memórias a fizeram. Ela não haveria de ser o que era se a vida não a houvesse moldado de tal forma. O que ele não sabia, é que para que se faça uma escultura no mármore, tem-se de quebrá-lo. Assim como uma estátua de mármore, ela não era perfeita, tampouco era o que ele deu por visto. A timidez da garota não provinha de genes misteriosos, mas sim da forma como foi pressioanda a ser, de seus medos, de seus anseios, da imagem que tinha de si mesma. Sua ingenuidade provinha da hipocrisia da sociedade, que a fez cega para tantas coisas, como se ela fosse errada ao criar contato com qualquer uma delas. Suas manias eram igualmente relacionadas às suas secretas vontades, tão secretas que sequer ela sabia que os possuía. Apesar disso, seu sorriso era sincero como tal podia ser.
Ele se sentiria desapontado ao descobrir o que antes não vira. Como se ela estivesse agora desnuda, a ideia que ele fazia de seu corpo metafórico era muito mais perfeita do que realmente a garota era. Talvez suas vestes tivessem insinuado outra forma à seu corpo, talvez apenas estivessem cobrindo o suficiente.


Ele se tornara tão preso aos seus sonhos, que não poderia amá-la.


E assim, eles cruzaram a ponte. E nunca aconteceram.


Letícia, 21 Feb 2012.

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