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2071

Na velha casa, a garota abria a porta do quarto dos fundos. Ele tinha um cheiro diferente do resto da casa, e uma decoração peculiar. Cheia de pequenos objetos em cima das penteadeira onde haviam poucos cosméticos, e vários pequenos baús distribuídos pelos móveis. Havia uma cadeira de balanço de madeira escura, forrada por travesseiros grandes e macios, como ela gostava. Estava sentada lá, em frente à janela, lendo novamente "Senhora", de José de Alencar, quando virou-se em direção à porta aberta.
- Vó...
- Entre, minha netinha. - Ela abriu os braços para cumprimentar a garota - O que há com esse tom tristonho?
- É o Thi... Ele terminou comigo... - Disse, sentando-se no pequeno espaço que sobrava na cadeira de balanço e entrelaçando-se à avó.
- Ah, minha querida... O que aconteceu?
- Eu não sei... Ele só disse... Que não gostava mais de mim, sabe? Que não era mais feliz comigo.
- Do nada?
- É... Não é louco?
- Sim, eu também acho... - A senhora afagou os cabelos castanhos de sua neta enquanto olhava para o baú guardado no móvel principal - Aconteceu algo parecido comigo, há muito tempo atrás...
- Mas com a senhora? Você sempre foi tão boa com todo mundo!
- Isso não basta, querida... Você também não era boa com seu namorado?
- Sim, mas... Eu tinha meus deslizes... Nem sempre eu coneguia ser tudo que eu podia...
- Isso é perfeitamente normal. Afinal, ele também não era ruim com você em vários pontos?
- ... É... O seu também era, vovó?
- Sim, querida. Ele fazia muitas coisas que me machucavam...
- Tipo o quê?
- Ah, eu o amei demais... Cometi um erro, ao fazer dele o meu mundo. No começo, tudo ia bem, pois ele também tinha feito de mim boa parte do mundo dele, embora eu sempre fizesse mais... Ele parou de querer me ver tanto quanto eu queria vê-lo. Eu gostava de estar com ele o tempo todo, mas com ele não era assim. Ele gostava de sair com os amigos dele. Isso não deveria ser um problema, mas ele nunca, nunca avisava quando ia sair com eles. E quando avisava, era na meia-noite do dia anterior...
- Nossa... Ele realmente gostava de você, vó?
- Não tenho como saber, querida. Quando alguém diz que te ama... Você pode escolher entre acreditar e ter fé nessa pessoa ou não. Na minha opinião, quando você diz que ama alguém, você assume várias responsabilidades. Eu já disse um "eu te amo" mentiroso... Mas eu estava disposta a assumir as responsabilidades caso a pessoa acreditasse nisso. Por isso, eu sempre acreditei naquele homem... Eu confiei nele meu coração e alma. Toda a minha essência.
- Entendo... - Uma lágrima escapou dos olhos azuis da menina - Realmente, dizer "eu te amo" é algo muito grave...
- É sim, meu anjo. Não chore... Eu te amo, querida.
- Ah, vó... Eu também amo muito você.
- Não se atreva a se sentir solitária, querida. Você sempre vai ter a sua vó pra conversar com você...
- Eu sei vó, eu sei. Eu fico realmente feliz por isso... E como continua a sua história?
- Bem... Ele vivia fazendo esse tipo de coisa, sabe? Demorava pra me responder quando a gente ainda conversava por internet, naquele computador velho; Ele chegava a demorar horas, e nunca explicava o porque de toda essa demora. Ele não estava nem aí pra convesar comigo... Eu não costumava implicar com esse tipo de coisa, raras foram as vezes que isso aconteceu. Uma vez, eu briguei com ele por ele ter me dispensado durante o final de semana inteiro...
- Nossa... É realmente doloroso, mas não foi exagero, vó?
- Eu concordo parcialmente com você, querida... Até hoje, tantas décadas depois, eu ainda me lembro da frieza com que ele falava que não nos veríamos... Era como se ele estivesse até feliz com isso.
- Credo, vovó... Por que você tava com ele, se ele nem parecia gostar de você?
- Porque eu o amava, querida. Você acredita em amor verdadeiro, sincero e puro? Um amor que você não ama porque é amada... Mas que você ama por motivo nenhum. Despretencioso, e por isso... Sincero?
- ... Não sei, vó... Eu acreditava, mas...
- Não se preocupe, querida... Eu não acho que aconteça com todos. Mas se esse tipo de coisa existe, esse homem é o meu amor verdadeiro; como você vê, ele não me dava motivos para amá-lo mais. Mas eu sempre o amei mais...
- E o vovô?
- Seu vô foi a melhor coisa que me aconteceu, querida. Ele me amou muito e eu também o amei. Mas ele me deu motivos para amá-lo... Ele sempre foi um anjo comigo, e conquistou o meu amor. É diferente do que aconteceu com aquele homem... Aquele homem simplesmente foi amado.
- Mas... Se o vovô não era seu amor verdadeiro...
- O mundo não é justo, querida... É por isso que eu me esforço pra fazer dele um lugar melhor para aqueles que estão por perto...
- Entendi... E como esse seu namorado terminou com você, vó?
- Ah, nós terminamos duas vezes... Da primeira vez, ele terminou comigo e me acompanhou até em casa... Quando chegamos lá, eu perguntei a ele se era isso o que ele queria, e propus tentar de novo. Ele aceitou... Mas não acreditou o suficiente. Ele via aquilo como um prolongamento de algo que ia terminar...
- Que cruel...
- A vida é cruel, querida...
- Como foi a segunda vez?
- Bom... Ele me encontrou na casa dele, na parede, sentada. Eu tive um surto de alguma coisa...
- Surto?!
- Calma, querida. Eu tinha me tornado uma pessoa muito triste... Às vezes, eu não conseguia controlar a tristeza e a raiva. Eu estava muito magoada, e extrapolava isso de tempos em tempos. Não era algo que eu quisesse fazer... Mas eu estava mal, e como eu não falava diretamente, acabava saindo de outro jeito...
- E ele?
- Eu confesso que esperava que ele se preocupasse comigo. Mas ele foi frio, e seco. Perguntei a ele se ele me amava, e ele disse rispidamente que não. Ele quase não me tocou aquele dia.
- Nossa, vó...
- Ele sempre ficava bravo quando alguma coisa que eu dizia insinuava que ele não me amava tanto assim. Então eu decidia acreditar, mas vê...
- Ele não te amava, vó, fala sério.
- Eu acredito que amava, querida... Acredito sim.
- Você é mais ingênua do que eu, vó!
- Veja isto, querida... - A senhora se afastou da menina, levantou-se da cadeira e andou vagarosamente até o baú no móvel principal. Pegou-o e o pôs em cima da cama. Abriu-o, e tirou de lá um punhado de cartas. - Todas essas cartas foram escritas por ele, pra mim...
- Nossa...! Tem bastante aí...
- Sim, sim... Ele confiava os pensamentos mais íntimos dele à mim.
- Então ele te amava?!
- Sim, querida, acredito mesmo nisso.
- Então por que raios parecia que não?!
- Quem é que vai saber?
- Como assim?
- Algumas coisas não tem respostas, só isso... Não se pode entender alguém plenamente, você não acha? E se estivermos esquecendo de um detalhe importante, que ele não me mostrou, mas estava lá o tempo todo e foi o responsável por toda essa confusão?
- Mas isso não é falta de consideração? Você tava claramente mal, e ele...
- Quem é que sabe o que houve, querida...
- Mas... Mas...
- Eu sei, meu anjo. Sempre tem um "mas", só não sabemos o que vem depois dele...
- E o que aconteceu depois que vocês terminaram?
- Eu continuei amando-o. Eu tentei continuar próxima dele, conversar com ele... No começo ele era muito fechado. Era difícil manter uma conversa, porque ele nunca se interessava. Às vezes eu não ia conversar com ele, porque eu pensava que esse desinteresse era simplesmente por desgostar a minha pessoa, pensava que ele já tinha achado outras coisas que o interessassem mais do que eu... E então eu não ia conversar com ele pra deixá-lo livre. Mas então ele vinha conversar comigo... E era gentil. Perguntava do meu dia, e tudo mais... Contraditório, não acha?
- Talvez ele só tivesse sentido a sua falta... Você nunca vai sentir falta do que você tem do seu lado...
- Eu também pensei isso, meu anjo... Mas toda vez que eu dava a entender que gostava dele, ele me ignorava... Era como se ele me quisesse por perto, mas nunca perto o suficiente.
- Ué... Então ele gostava de você ou não?
- É uma pergunta de ouro, querida... Eu realmente não sei te responder isso. Às vezes ele era tão gentil comigo, chegava até a me mandar corações... E isso me deixava realmente feliz. Mas sempre que eu tentava sair com ele... Ele chegou até a parar de me responder depis de eu ter sugerido um lugar pra ir.
- Mas... Não o entendo.
- Eu também não entendi, querida... Mas eu estava cansada de ter minha bondade jogada ao léu... - Ela guardou as cartas, cuidadosamente. - Extrapolei a minha raiva como pude, e tentei deixar as coisas acontecerem sem a minha interferência...
- E o que aconteceu?
A velha senhora suspirou.
- Ele era meu verdadeiro amor.







Não deixa isso acontecer...


Letícia, 15 Nov 2011.

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