windsong

Essa foi uma noite perturbada. Sonhei intensamente; desta vez, eu estava absolutamente sozinha. Eu queria ser perfeita, eu precisava ser perfeita. Eu era disciplinada, ingênua e exigente comigo mesma. Minha perna doía muito, mas eu precisava continuar dançando. Me apoiava nela, enquanto levantava a outra para um giro gracioso. Um, dois, três; os passos eram marcados. A expressão era fria, embora eu não a tenha visto. Podia sentir o rosto congelado. As sapatilhas em tons de rosa-perolado me remetiam à pureza, mas eu só pude sentir o desejo de ser perfeita. Embora tudo isso tenha sido tão intenso, o motivo e o sentimento verdadeiro de tudo isso não veio de dentro de mim, mas sim, de fora. Não sou eu quem tem tal obsessão pela perfeição. Eu só absorvi o sentimento. Há coisas com as quais se faz uma metáfora perfeita para mim, minha vida e minhas atitudes - mas não são essas.
Acordei. Pensei demais no sonho. Não soube descrever o que tinha acontecido - e se lembrasse tão bem do sonho, também não teria conseguido fazê-lo agora -, mas eu podia sentir. Era intenso demais. Minhas mãos tremiam, meu corpo suava e um mal-estar generalizado surgia.
Tentei transformar tudo em palavras. Frustrei-me. Cada letra digitada se parecia menos e menos com o que eu realmente queria dizer. (e vai ser assim enquanto eu não puder ser sincera)
O mal-estar piorou. Piorava, piorava, piorava. Já não conseguia pensar em mais nada a não ser em como aquela sensação era horrível. Vomitei.
Melhorei um pouco. Pude me manter. Tentei, novamente, escrever. Outra frustração.
Tomei um banho quente e demorado, fui dormir enquanto o céu já clareava.
Sonhei de novo. Dessa vez, era um sonho mais leve. Cores claras, cenários com árvores, ruas de paralelepípedos e águas empoçadas banhadas de flores brancas e amarelas. Tomei um ônibus errado, e pessoas desconhecidas procuraram minha amizade. Aceitei seus convites para ir ao teatro na sexta, e dei meu número. Desci do ônibus, brinquei com as pequenas pocinhas deslizantes e... Dancei. Em um só pé, girei; como o giro que tanto gostei. De novo, e de novo, e de novo. "Nossa, ela não tem medo de cair?", perguntaram. "Não. Ela já caiu antes, já conhece."
E de repente, uma cama de casal, grande e branca.
"Ei, me deixa ver seu ingresso?"
"Claro, tá aqui."
"Olha... Ele é diferente do meu! O seu é mais clarinho."
"Ah, é?"
"É sim... O meu tem cores mais fortes, mais vibrantes, e menos coisas escritas. Que estranho, né?"
"Sim."
"Será que é porque compramos em dias diferentes? Você comprou no primeiro dia, né?"
"Sim."
"É, eu comprei no segundo, deve ser por isso... Que coisa!"

A única parte que teve origem aqui dentro, é a última.

Bad night.