windsong

Dia 16, tive um sonho.
Era meu aniversário de 15 anos. Mamãe me acordara com uma surpresa; ela havia preparado uma festa para mim, no salão de festas, do nosso antigo prédio.
Ainda era dia quando desci, já com meu vestido prateado. Fui à garagem do térreo; todos estavam lá. Absolutamente todos, todas as pessoas que já encontrei em minha vida. Colegas de sala deste ano, do ano passado, de todos os anos anteriores. Paola, Cynthia, Vivian e outras garotas que já não devem mais se lembrar de mim. Parentes distantes, amigos esquecidos, todos estavam lá. Fiquei feliz, e fiz questão de cumprimentar um por um. Mas eles não me cumprimentavam; pelo contrário. Viravam seus rostos para a direção oposta, faziam como se não tivessem me percebido, lhes apetecia ignorar-me. Trocavam murmúrios de desprezo sem fazer questão de discrição. A cada rosto repleto de desdém, eu entendia menos, e doía mais. "Deveria ser um dia feliz."
Faltavam algumas pessoas. Todas as pessoas de meu "presente recente", aquelas que estão aqui há menos de um ano. Não entendia porquê.
Me refugiei dentro do salão. Estava vazio, repleto de mesas decoradas com as mais belas cores e tonalidades harmoniosas, salgadinhos arrumados atrativamente, várias garrafas de refrigerantes, brincadeiras preparadas no chão, video-games esperando jogadores, e por fim, as tradicionais cadeiras brancas contornando o salão. Fui à cozinha, procurar minha mãe. Disse-lhe: "mãe, não precisava ter feito essa festa... Olha, você arrumou tudo, mas não tem ninguém aqui!". "Não se preocupe, eu não te deixaria sem uma festa." - não havia traços de arrependimento em seu olhar. Suas palavras faziam sentir a ternura, as boas intenções. Retornei ao salão.
Três pessoas chegaram à festa. Duas delas, absolutamente esperadas - as duas pessoas que vieram no meu verdadeiro aniversário de 15 anos. A outra... Não consigo lembrar quem era.
Olhei para suas vestes. Olhei para meu vestido. "Ele veio de bermuda... Mas é uma festa de trajes sociais. O que é isso?! Ele não é meu namorado? ... Espere... Não é. Por que não me lembro?"
Sentei-me em uma das cadeiras brancas, próxima ao banheiro. Pus-me a chorar. "Está tudo errado..."
Então, as três pessoas entraram no salão; dessa vez, com roupas sociais, adequadas à situação.
Se sentou ao meu lado, e me perguntou: "o que houve?". "É que... Tá tudo arrumado... E ninguém quis vir... Mas tem tanta gente lá fora! Só que eles me odeiam... E agora tem tanta coisa legal aqui pra fazer...", continuei a chorar.
Em silêncio, inclinou o corpo até encostar em meu ombro. Então, passou um braço, depois o outro; me abraçou.
Parei de chorar.
"Vamos lá", disse, se levantando. Naquele momento, percebi que a falta do beijo não era importante. Os três se levantaram e começaram a brincar e desfrutar de tudo que ali havia. Deliciaram-se, jogaram, brincaram, riram. Me juntei à eles. Joguei futebol de salto, comi salgadinhos até sentir que explodiria, joguei no velho controle de Playstation 2.
Algumas poucas pessoas começaram a aparecer para brincar também, e logo tudo ficou divertido.

Acordei.

Comemorações.